O Legado de Santa Catarina de Sena
Santa Catarina de Sena foi uma das figuras mais notáveis da história da Igreja Católica e uma das mais influentes místicas e teólogas do período final da Idade Média. Viveu no século XIV, época conturbada para a Igreja.
Neste artigo, pretendemos fazer um resumo sobre o legado deixado por essa influente jovem, leiga, mística, dominicana, Doutora e Santa da Igreja Católica. Exploraremos sua vida, história, principais eventos e ensinamentos.
Vida e História:
Filha de Tiago e Lapa, Catarina Benincasa nasceu em 25 de março de 1347, em Siena, na Itália, como a 24ª filha de uma família piedosa. Desde cedo, ela demonstrou uma devoção intensa e um profundo amor por Deus. Aos sete anos, teve uma visão de Jesus Cristo, o que a impulsionou ainda mais em sua busca espiritual.
Biografia:
A biografia mais conhecida e influente de Santa Catarina de Sena foi escrita por seu confessor, o beato Raymond de Capua, que também era um dominicano. Raymond de Capua foi um dos colaboradores mais próximos de Catarina e desempenhou um papel fundamental na coleta e documentação de informações sobre sua vida e ensinamentos.
O título completo da obra de Raymond de Capua é “A Vida de Santa Catarina de Sena“. Esta biografia (com Imprimatur) foi escrita pouco após a morte de Catarina, que ocorreu em 1380, e desempenhou um papel importante na promoção de sua devoção e na canonização posterior de Santa Catarina de Sena.
Outra biografia que também merece ser comentada e está disponível em português, é da Sigrid Undset (1882-1949). Com a técnica de fabulação dos grandes romancistas, Sigrid (ganhadora de prêmio Nobel por seus romances) escreve as experiências e visões místicas reconstituindo o universo espiritual da época, tendo como fontes de consulta os escritos de Tomás della Fonte, primeiro confessor de Catarina, e de Raimundo de Cápua (citado anteriormente).
Relação com São Domingos de Gusmão:
Catarina de Sena não era freira nem monja, era leiga, mas compartilhou uma conexão com São Domingos de Gusmão, que viveu cerca de dois séculos antes de Catarina e é o fundador da Ordem dos Dominicanos.
Ela entrou muito cedo (aos 16 anos) para uma confraria de leigas (ordem terceira) assistidas pelos dominicados, as Manteladas (Mantellate), e tinham o costume de cobrir com um manto ou véu a cabeça em sinal de consagração virginal a Deus. Aparentemente, o próprio São Domingos de Gusmão apareceu a ela em uma visão e a convenceu de ser dominicana terciária, algo que até então normalmente estava reservado para as viúvas. Também obteve uma permissão especial para usar o hábito.
Saída para o Mundo:
Catarina optou por uma vida de simplicidade, oração e caridade. Após uma visão em extase, saiu para o mundo e viveu uma vida ao mesmo tempo contemplativa e apostólica. Essa leiga, santa e doutora, sem deixar de ser mística, com suas cartas conseguiu convencer o Papa Gregório XI a voltar à Roma.
Sua reputação de santidade logo se espalhou, atraindo seguidores. Catarina é conhecida por suas visões místicas e seu papel na resolução do Cisma Papal.
Principais Eventos:
- Diálogo Divino: Um dos eventos mais significativos em sua vida foi o “Diálogo Divino,” onde Catarina afirmou ter recebido visões e revelações de Deus. Essas experiências espirituais resultaram na escrita do livro “O Diálogo”, que é uma das obras teológicas mais importantes do período medieval.
- Papado em Avignon: Em um momento crítico da história da Igreja, quando o papado estava dividido entre Roma e Avignon (França), Catarina desempenhou um papel crucial na persuasão do Papa Gregório XI a retornar a Roma, restaurando assim a unidade da Igreja Católica.
- Trabalho de Enfermagem e Caridade: Catarina também se dedicou ao cuidado de doentes e pobres durante a peste bubônica que assolou a Europa. Sua dedicação ao serviço aos menos afortunados exemplificou seu compromisso com os ensinamentos de Cristo.
- Estigmas de Cristo: de acordo com relatos históricos e documentos sobre a vida de Santa Catarina de Sena, Catarina recebeu os estigmas, mas após pedir a Jesus, estes ficaram invisíveis aos outros. Dizem que após sua morte, foi possível vê-los.
Ensinos e Legado:
Os ensinamentos de Santa Catarina de Sena giravam em torno de sua profunda devoção a Deus e seu amor pela Igreja. Alguns dos principais ensinamentos incluem:
- Amor a Deus: Catarina enfatizava a importância do amor a Deus como o caminho para a salvação e a união com Ele.
- Unidade da Igreja: Ela defendia fortemente a unidade da Igreja Católica, trabalhando incansavelmente para resolver o Cisma Papal. Também dirigiu exortações a cardeais, bispos e sacerdotes, implorando-lhes a pureza dos costumes e respeito pela dignidade de que estavam revestidos, pois “são ministros do sangue de Cristo” (cfr. Paulo VI, Homilia na proclamação de Santa Catarina de Sena como Doutora da Igreja, 03/10/1970).
- Serviço e Caridade: Catarina via a caridade como um ato essencial de devoção a Deus e exortava os outros a cuidar dos menos afortunados. Deu grande exemplo cuidado dos doentes durante a peste negra.
- Misticismo e Oração: Suas visões e experiências místicas a levaram a explorar aspectos profundos da espiritualidade, encorajando outros a buscar uma relação íntima com Deus.
A Eucaristia é o meio mais apto para a união do homem com Deus e o maior conhecimento da Verdade
– Santa Catarina de Sena
Morte, canonização e honras
Catarina de Sena faleceu, aos trinta e três anos de idade, em 29 de abril de 1380. Ela foi canonizada como santa em 1461. A cabeça de Santa Catarina está na cidade de Sena. Seu corpo foi trasladado para Roma (na Igreja de Santa Maria Sopra Minerva).
Além disso, ela é uma das quatro doutoras da Igreja, um título reservado para os teólogos e teólogas católicos mais influentes ao longo da história. O Papa Paulo VI declarou-a “doutora da Igreja” em 1970, por causa da grandeza mística e teológica de sua obra.
É copadroeira de Roma, da Itália e da Europa
O Papa Pio IX a declarou copadroeira de Roma em 1866; Pio XII a declarou copadroeira da Itália em 1939. Em 1999, São João Paulo II a declarou copadroeira da Europa.
Santa Catarina de Sena é lembrada não apenas por sua vida exemplar, mas também por seus profundos ensinamentos que continuam a inspirar e guiar os fiéis em sua jornada espiritual até os dias de hoje.
Ensinamentos
Sendo Deus um bem infinito, a ofensa cometida contra Ele pede satisfação infinita.
Os males desta existência não são punições, mas correção a filho que ofende.
Nenhuma virtude tem valor sem a caridade, no entando, é a humildade que forma e nutre a caridade.
Conhecendo-te, tu te humilharás ao perceber que, por ti mesma, nada és.
Convence-te de que a caridade está intimamente unida à paciência; impossível perder uma delas, sem perder a outra.
É na adversidade que se prova ter paciência e amor.
Santificação, sem o amor, é insuficiente para cancelar a culpa.
É obrigação de todos edificar os demais com uma vida boa, santa e honesta.
Se Deus nos criou sem a nossa colaboração, sem ela não nos salvará.
O orgulho é a raiz de todos os vícios.
Não penses que a felicidade celeste seja apenas individual. Não! Ela é participada por todos os cidadãos da pátria, homens e anjos.
Os bem-aventurados desejam recuperar seus corpos; todavia não sofrem por sua ausência.
Nesta vida ninguém vive sem cruz.
Algumas fontes e referências bibliográficas:
- PadrePauloRicardo.org – memória de Santa Catarina de Sena
- Canção Nova
- Cleofas.com.br
- Obras “Cartas” e “O Diálogo“, de Santa Catarina
- Na Escola dos Santos Doutores (8º edição), editora Cléofas, Prof. Felipe Aquino (Imprimatur)
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